O aumento da taxa básica de juros, a Selic, que subiu de 6,25% para 7,75% ao ano, no mês de outubro, pode deixar o sonho da casa própria mais distante para algumas famílias e frear o ritmo de financiamento de imóveis, mercado que cresceu durante a pandemia da Covid-19. O índice, que foi elevado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, com aviso de que deve ir para 9,25% em dezembro, encarece o crédito imobiliário.
“Diante da alta da Selic, certamente as taxas de juros dos financiamentos imobiliários aumentarão. E, com juros mais elevados, os compradores ficarão mais cautelosos em contraírem dívidas de elevado valor, refletindo na redução dos negócios. Essa alta de 6% da Taxa Selic no decorrer de oito meses gera insegurança, pelo fato de a dívida ser de longo prazo e a prestação ficar mais cara em relação ao salário, que não sobe no mesmo patamar”, diz Kênio Pereira, presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG e conselheiro da Câmara do Mercado Imobiliário do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG).
A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) estima que os juros dos empréstimos imobiliários subam dos atuais 8% para 9%, entre o fim deste ano e o início de 2022, e projeta um crescimento de 57% no volume de financiamentos em 2021, chegando a um recorde de R$ 195 bilhões, com possibilidade de repetir esse valor no próximo ano, mas com uma desaceleração no ritmo dos negócios.
“Este ano vai ser de recorde absoluto em volume de financiamentos, e, para o fim do ano, a estimativa é fechar entre R$ 195 bilhões e R$ 220 bilhões em financiamentos. Estamos falando de números parrudos. Apesar da alta da Selic, que deve ficar no patamar de 9% para o início do ano que vem, a gente acredita que o crescimento do volume financiado em 2022 vai diminuir e ficar na casa de um dígito, mas o montante (R$ 195 bi), que é recorde, vai se repetir” diz Cristiane Portella, presidente da Abecip.
Para ela, essa previsão da entidade se justifica na taxa de juros dos empréstimos abaixo de 10%, no grande apetite dos bancos em financiar o crédito imobiliário e no fato de que as pessoas estão dando mais valor para suas casas, durante a pandemia, com interesse maior de deixar os ambientes mais confortáveis.
“Ainda que a taxa de juros vá subir, ela deve continuar abaixo de 10%, e isso cabe no bolso de muita gente. Mas, se a inflação não ficar controlada, o desemprego não diminuir e os níveis de confiança do consumidor caírem muito, a nossa previsão pode ser impactada”, afirma Cristiane. Segundo a Abecip, de janeiro até setembro de 2021, os financiamentos imobiliários atingiram a marca de R$ 154,69 bilhões, alta de 96,3% em relação a igual período do ano passado.
Aumento deve ser de 9,25% até dezembro
Para o mercado imobiliário, a elevação da taxa Selic é sempre ruim, segundo especialistas. Isso porque quanto menor o seu percentual, mais baixo serão os juros praticados pelos bancos, em qualquer tipo de financiamento.
“O ideal para o mercado imobiliário é a Selic baixa, porém ter uma Selic baixa com a inflação alta também não é bom para o mercado porque acaba corroendo a renda das pessoas. A gente entende esse movimento do Banco Central como importante para controlar a inflação e aguarda que (a Selic) seja reduzida em 2023 com a inflação controlada”, avalia a presidente da Abecip, Cristiane Portella.
De acordo com Kênio Pereira, como o crédito imobiliário é um negócio rentável para os bancos, que tem o interesse de captar novos clientes, as instituições bancárias costumam esperar um pouco antes de elevar as taxas de financiamento.
“Certamente elas serão reajustadas de maneira sucessiva diante da evidente elevação da Taxa Selic nas próximas reuniões do Copom, sendo previsto para dezembro o acréscimo de mais 1,5%, que resultará na Selic de 9,25%. Quanto mais o pretendente à compra esperar, maior será o custo do financiamento”, pontua. Por isso, Pereira afirma que o importante é pesquisar.
Confira as condições de cada banco:
Bradesco. Embora o Banco Central tenha elevado em 1,5% a Selic, o Bradesco informou, em nota, que não houve alteração nas taxas de crédito imobiliário em outubro e que os futuros reajustes vão depender “da magnitude da alta das taxas Selic”.As taxas do banco variam de 7,30% a 8,5% + TR ao ano. Ao longo do ano, foram duas altas nos juros. O banco oferece prazo de pagamento de até 30 anos e comprometimento de renda de até 30% na tabela SAC.
Santander. Disse que a última correção dessa taxa foi realizada pelo banco no início de setembro e que, por enquanto, não há previsão de novos aumentos. A última correção da taxa de crédito imobiliário foi realizada no início de setembro. No momento, o banco segue com uma taxa de juros mínima de 8,99% ao ano + TR e máxima de 10,99% a.a. + TR, na tabela SAC para o financiamento imobiliário residencial. As operações possuem ainda custos de taxas administrativas e seguros obrigatórios.
Caixa. Limitou-se a dizer que a definição das taxas de juros dos financiamentos imobiliários se baseia “na análise da associação de fatores mercadológicos e conjunturais dentro das regras prudenciais de definição das condições de crédito”, sem deixar claro se haverá ou não novos reajustes. As taxas praticadas pelo banco variam entre 7,25% e 8% ao ano + TR. No mês passado, o banco anunciou redução nos juros. O prazo de financiamento varia de 120 a 420 meses.
Fonte: O Tempo